No mundo real, na luta cotidiana, os sentimentos não conseguem se conservar intocados e a pressa, as novidades, a liberalidade permitem que se troque de amor como podemos trocar de sapato. Vive-se em busca de ideais bastante distantes, muitas vezes inatingíveis.
É grande o sofrimento que pode acompanhar as perdas, os desamores, as angústias de posse e de separação — disso é preciso se afastar. Mostra real amadurecimento a pessoa que aprende a conviver altiva e sossegada com os desafetos que povoam toda e qualquer trajetória.
Somos tentados a não acreditar que outros passem por dificuldades afetivas como as que se abatem sobre nós. É equivocado, a repartição desse tipo de problema tende a ser bastante democrática e igualitária. Em geral os adultos todos se mostram insatisfeitos com o seu repertório amoroso.
Não ultrapassar os amores perdidos, impede a procura e progressão rumo a novas e melhores situações que, sem dúvida, aparecem, com o correr do tempo. As idéias fixas, o estagnar-se, o não ultrapassar a espera infundada pelo retorno de alguém que nem sabe mais quem somos — isso tudo, infelizmente tão comum entre pessoas exageradamente românticas, concorre para nosso atraso e nossa fragilização.
Prestemos atenção nisso. Habitar os castelinhos de cartas que construímos é, mesmo, deveras, perigoso. Nosso desafio é progredir, colocar nossa subjetividade em movimento de subida, de melhora constante. Ideal é não acreditar muito em um "mundo ideal", e sim construir um espaço de paz, serenidade, equilíbrio, com coisas verdadeiras que podem nos abrigar como sonhamos ser acolhidos no mais ideal dos mundos.