25 de agosto de 2009

Á sua disposição....

Triiiiiiiiiiiim.
Ela atende o telefone e sai da sala.
Fala com voz dura, frases curtas, num tom seco.
Ao desligar, corre para o banheiro.
E desaba.
Num choro profundo que nem ela mesma entende.


Por que atendeu o telefone daquele que a trocou por outra?
Não quer esquecê-lo.
No fundo, ainda acredita que ele a ama.
Deseja profundamente que volte.
E se ela não atender, talvez ele desista na primeira tentativa.
Então, atende.
E ouve apenas banalidades.
Não, ele não a quer de volta.
Nada de dizer “eu te amo”.
Sequer um "estou com saudades".
Não, não largou a outra.

Apenas se fez presente.
Simplesmente quis verificar se ela ainda o amava.
Foi atrás de confirmar e manter a chama acesa.
Não para um dia voltar, mas para se certificar do valor do próprio ego, para reabastecer a autoestima e sentir-se seguro para se mostrar "o bom" para a outra.
E ela cede.
Embasada e confortada por ilusões, ela atende a ligação.
Por mais que fala seja dura e seca, ela atendeu.
Ela estava ali. Disponível, presente.
E persiste num sonho distante.
Talvez para justificar seu próprio comodismo.
Pela maldita preguiça de reformular a vida e partir para outra.
Pelo comodismo de correr atrás de criar algo novo.

Porque amar e descobrir outro alguém dá trabalho.
Melhor manter-se presa a uma históra que não mais existe,
e se enganar de que está pisando em bases sólidas.
Assim, a vida passa.


"Atitudes falam mais que palavras"
por Barbara Semerene