15 de fevereiro de 2017

Relato das três amigas


RELATO DAS TRÊS AMIGAS

do livro Violetas na Janela



Nas horas de lazer, é costume visitar amigos e parentes por aqui. Gostamos de nos reunir e conversar. O assunto preferido entre familiares são os parentes. Falamos a respeito dos entes queridos desencarnados que não estão bem e sobre os parentes encarnados. Trocam-se idéias e ajuda. Na casa de vovó, recebem-se muitas visitas e, como estava sempre por ali, quando convidada, ficava junto. Escutava conversas, participara e, com isto, aprendia muito.



D. Amélia, uma das senhoras que moram conosco, recebeu a visita de sua neta Marina e da amiga dela, Isa, que residiam em outra Colônia. Conversamos animadas. Como quase sempre acontece, a conversa foi sobre a desencarnação. D. Amélia foi a primeira a falar da sua desencarnação.

—A morte do meu corpo foi muito dolorida. O câncer foi destruindo meu corpo. Revoltei-me com tudo e todos, tornei-me uma doente amarga. Muita debilitada, meu corpo morreu, nada vi ou senti, só percebi tempos depois. Continuei a sofrer com meu desencarne. Vaguei com dores pelo meu antigo lar. Sofri muito. Depois de muitos anos, fui socorrida. Entendi que foi merecido tudo o que passei. Tendo saúde encarnada, não dei valor, tomava sempre bebidas alcoólicas, fumava, envenenei meu corpo com o egoísmo, inveja e ciúmes. Se não fiz mal a ninguém, fiz pouco bem. O bem que fiz foram as poucas esmolas, resto do meu supérfluo, que distribuí. Nunca pensei em ajudar realmente alguém. Vivi encarnada cultivando a matéria, como uma tola imprudente, ignorando a parte verdadeira, a espiritual. A dor, a doença, tudo isso foi uma tentativa que havia escolhido antes de reencarnar, para alertar-me, mas fiquei revoltada, não sofri com resignação. Quem não sofre com aceitação, pouco lhe adianta. Depois, em vez de reconhecer meus erros, me revoltei, achando injusto, por não ter feito, no meu ponto de vista, nada de ruim, não matara, não roubara, não traíra, etc. Esquecendo que pude fazer o Bem e não fiz. Nem aprender quis. Para que saber? Dizia sempre, depois de morta, aprendo. Isto, se tiver continuação da vida. Teve, continuei a existir depois do meu corpo ter morrido. E continuei a sofrer pelos mesmos motivos. Até que, cansada, comecei a ver realmente meus vícios. Mais humilde, clamei, pedi ajuda. Amigos e parentes levaram-me para o hospital de um Posto de Socorro, onde sarei e vim para a Colônia. Agora, tendo a oportunidade, sou agradecida, tento educar-me no trabalho útil e no estudo da boa moral.